O que aconteceu com as Americanas?

No início de 2023 as Lojas Americanas mudou o CEO que comanda seus negócios. Sérgio Rial, ex-Santander, assumiu a gigante do varejo nacional por apenas 10 dias. Em sua renúncia, Rial mostrou que a organização possuía um rombo de R$20 bilhões - que em análise posterior chegou a R$43 bilhões quando a empresa entrou com pedido de recuperação judicial.

O que foi apresentado como motivo para esse rombo de tão grande proporção,  foi que a organização pagava fornecedores por meio de uma triangulação com bancos, mas os pagamentos não foram devidamente realizados, gerando a dívida.

Essa triangulação entre varejista, fornecedor e banco é denominado Risco Sacado. Funciona assim: o varejista compra a mercadoria do fornecedor. O banco paga ao fornecedor. O fornecedor recebe um valor inferior ao negociado, por receber antecipadamente, enquanto o varejista fica devendo ao banco o valor com juros, mas paga parcelado. 

Na prática, o que isso significa? A Americanas faliu? Não. A empresa continua a funcionar. Alguns patrocínios foram cancelados, outros custos que não são essenciais à operação estão sendo controlados. Mas as lojas físicas e digitais continuam abertas atendendo normalmente ao cliente.  

A recuperação judicial é uma maneira do varejista renegociar suas dívidas com seus credores com maiores prazos. Além disso, os seus acionistas majoritários - Jorge Paulo Lemman, Beto Sicupira e Marcel Teles - conhecidos por liderarem empresas como Anheuser-Busch InBev (Ambev, Budweiser), Heinz, Burger King dentre outras - irão realizar aportes de capital. Mas não é descartada a venda de ativos para estabilizar a situação.

As ações na bolsa de valores das Americanas despencaram com o anúncio da recuperação judicial. Mas e os clientes, devem se preocupar com seus pedidos? Nesse aspecto, a Americanas fez um comunicado ao público dizendo: "A Americanas comunicou aos clientes e parceiros que segue aberta e pronta para suas compras e entregas, nas lojas, no site e no app. A companhia continua dando acesso ao maior número de brasileiros e brasileiras às melhores ofertas, produtos e serviços".

No final das contas, a Americanas pode se recuperar. Isso depende dos clientes continuarem a comprar seus produtos, levando a organização a ter lucros novamente para pagar seus credores. É possível que sejam fechadas unidades que apresentem resultados insuficientes, e nesse caso, colaboradores podem ser demitidos.

Mas afinal, houve fraude ou má administração? Essa questão ainda está sendo apurada. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu um processo administrativo e está apurando as divergências nos balanços da empresa. Também está sendo apurada como as auditorias externas realizadas não identificaram os problemas. Em última instância, um inquérito policial pode ser aberto para apurar responsabilidades.


Marcelo Guimarães de Senna

Especialista em gestão de empresas varejistas e franquias, consultoria em gestão, gerenciamento de projetos, operações, negociações, recursos humanos e treinamento. Consultor em Angola coordenando projeto na maior rede de postos de combustíveis e lojas de conveniência do país.

Mestre em Administração (COPPEAD/UFRJ), Economista (UFRJ), Consultor.

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